sábado, 4 de julho de 2009

Soneto 11


Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;

é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.


É um não querer mais que bem querer;

é um andar solitário entre agente;
é nunca contentar-se de contente;

é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata lealdade.


Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,

se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Luís de Camões
(Sonetos)

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